A Sociedade Urbana e os Caminhos
da
Modernidade e da Pós-Modernidade*
Desde
os estudos de G. Simmel a sociologia distingue dois tipos principais de
relações humanas: as comunitárias e as societárias.
O título dessa Mesa Redonda parece excluir, desde
logo, as primeiras. Também as considerações acadêmicas sobre a modo de vida
distinguem, ainda no nível da sociologia, diversos tipos de relações humanas:
as castas, os estamentos, as classes e camadas sociais.
Para isso,
apoio-me em escritos anteriores publicados e inéditos onde desenvolvo certas
hipóteses – cuja demonstração resulta bastante complexa – e que têm o intento
de apenas sugerir certas diretivas para o desenvolvimento de uma investigação
mais consistente.
* Texto reproduzido da Revista Paranaense de Geografia, ano VI, nº 6 ,
Curitiba: Letra das Artes, 2001, p.111-117.
A Geografia
Social tem tido dificuldades de objetivar seu escopo de estudo.
Tradicionalmente trata-se da população, entendendo-se
que as movimentos desta, como os “movimentos. sociais urbanos” são movimentos,
quer comunitários, quer societários.
Do mesmo
modo os “movimentos sociais rurais” têm deixado os estudiosos em dúvidas quanto
à sua natureza.
Entendo,
então, por sociedade urbana, em Geografia, um conjunto de relações entre as
pessoas, incluída ai relações individuais e coletivas, diferenciadas em relação
ao campo.
Por isso,
considero-as como relações societárias. E ai reside o problema.
O marxismo
distingue a classe-em-si e a classe-para-si, além de camadas intermediárias
que, em parte, compõem a sociedade civil.
Como
tratar a questão em Geografia? Isto, porque existem classes sociais na cidade e
no campo.
Segundo
Pierre George, que não considero um autor superado, explicitamente e. seu, A
Geografia Ativa (coordenação e Prefácio) nossa disciplina trata os tipos empíricos:
operários, camponeses, empresários, militares, religiosos, políticos,
estudantes, professores, donas-de-casa etc., como categorias que são também
sociais.
Esse é um
problema ainda não resolvido pela ciência geográfica. Uma solução possível é
identificar nossa disciplina, não só como uma subtotalidade (disciplinar), mas
como uma ideologia do cotidiano, ou seja, nosso social, diversamente da
sociologia, strictu sensu, inclui
o dado empírico e o dado lógico. Assim, categoria trabalho, pensada geograficamente,
refere-se mais ao trabalhador (população), do que ao operário (em-si ou
para-si), por exemplo, mas tem uma conotação social.
Isto
implica em teorizar o empírico e dele extrair as categorias lógico-ontológicas.
Mas, isso implica num problema: de que estamos tratando, de movimento ou de
funções?
Uma
maneira de exorcizar o problema é, como na Geografia Humanística, lidar com a
população como pessoas. Daí a abordagem fenomenológico-existencial implícita.
Ou seja,
antes de ser trabalhador, ou operário (no exemplo acima) o ser humano é pessoa.
Como não
se pode ignorar o conflito (micro ou macro) devemos admitir a existência de
relações pessoais e impessoais. Ora, são justamente estas últimas as relações
societárias.
Então, a sociedade urbana é composta por um conjunto de
indivíduos e coletivos que desenvolvem entre si interações de caráter
interpessoal e inter-social, marcadas pela divisão social do trabalho.
Então, sua
caracterização refere-se a um modo de vida urbano.
Uma
diferença que se deve, por isso fazer, é a distinção
entre o pessoal, no campo, e o pessoal na cidade, quando as pessoas, neste
último caso, estão imersas no mercado, ou seja, nas relações capital/trabalho,
num modo de produção especifico e, da mesma forma, numa formação sócio-espacial
específica, que, em Geografia, deve ser localizada em sua particularidade.
Pensando
principalmente nas metrópoles e no chamado Período técnico-científico qual é, hoje,
o perfil social urbano? A pergunta se valida no fato de que a estrutura social
tradicional sofreu modificações.
Essas
modificações são, de uma parte, estruturais (surgiram
novos estratos e camadas) e, de outro, a maquinização
do Terciário e do Quaternário criaram novos personagens que têm influência
decisiva na que acontece hoje no modo de vida urbano.
Não
existem ainda estudos sobre isso.
Na
verdade, continuamos a raciocinar como fora. as
categorias de análise na década de 50, no Brasil e no mundo.
Qual o
perfil social das sociedades avançadas do Primeiro Mundo?
E, porque
se tornou importante, quais as novas funções, urbana, que surgiram?
Não me
refiro às considerações sobre uma “nova classe média”, uma “nova classe
operária”, uma “nova burguesia” etc. Mesmo tentando avançar no raciocínio,
estas categorias são ainda modernas e não leva em conta a pós-modernidade, ou
seja, as chamadas “sociedade de consumo”, “sociedade pós-industrial”,
“sociedade de massas”, “sociedade do espetáculo” etc.
Considerando com Habermas e outros que o projeto da modernidade é um projeto
inacabado, aquelas denominações são validas, mas estão aquém do social que
dilui as classes, camadas, estamentos e castas em grupos até então pouco
consideradas, como os dos homossexuais, das mulheres, dos negros, dos índios, e
também dos menores de rua, etc.
Daí a
importância dos projetos em sua natureza: que projeto de sociedade, ainda
moderna, existe no Terceiro Mundo?
Em outras palavras,
considerando também a questão ambiental, o que é Brasil hoje: um país “pronto”
ou um país por fazer?
Esse
dilema está sendo resolvido, contraditoriamente, nas cidades, sejam elas
pequenas, médias ou grandes.
A resposta
à pergunta passa pela questão da cidadania. Mas, o que é isso? A aquisição dos
chamados direitos humanos (oriundos da Revolução Francesa de 1789)? Ou os da
Carta da ONU?
Penso que
um problema importante é a consideração conjunta de espaço e tempo, desde Kant
até Einstein, pois ambos são parâmetros da modernidade, embora a maioria das
pessoas (da população) ainda não tenha consciência disso.
Então,
põe-se como legítima a luta pelas liberdades democráticas no contexto do país
como é sendo as bandeiras mais importantes superar o subdesenvolvimento e a
dependência, de herança colonial.
Neste
caso, o tema sociedade urbana tem que ser pensado de modo diferente. Pensando
em Lyotard, Jameson,
Baudrillard, Harvey, Soja, Habermas, Connor e outros, já há uma realidade nova (presente) que se
expressa nas temáticas do “experienciar o espaço e o
tempo” de Berman, ou na “compressão do espaço e do
tempo” de Harvey, que criam situações novas para as
pessoas, agora, consideradas e, si mesmas, como sujeitos autônomos e
diferenciados. Isto dá origem a uma outra noção de social que está apenas se
esboçando através, por exemplo, da sinergia, que reúne atores em um contexto
interessados num mesmo objetivo, que tanto pode estar à esquerda como à direita.
Mas, o que é esquerda e direita no âmbito da pós-modernidade?
Para
responder a isso é preciso entender o que são hoje o local, o regional, o
nacional e o internacional.
From the studies of G. Simmel the sociology distinguishes two main types of
human relationships: the community ones and the societary.
The
title of that Round Table seems to exclude, at once, the first ones. Also the
academic considerations on to life way they distinguish, still in the level of
the sociology, several types of human relationships: the breeds, the status
symbol, the classes and social layers.
For that, I lean on
in written previous published and unpublished where I develop certain
hypotheses–whose demonstration results quite complex–and that have the project
of just to suggest right directing for the development of a more consistent
investigation.
1.
BERMAN, M. (1987) Tudo o que e Sólido Desmancha
no Ar, Companhia das Letras, São Paulo.
2.
CONNOR,
S. (1992) Cultura pós-moderna, Ed. Loyola, São Paulo.
3.
GOLDMANN,
L. (1972) A Criação Cultural na Sociedade Moderna, DIFEL, São Paulo.
4.
HABERMAS, J. (1990) O Discurso Filosófico da
Modernidade, Publicações Dom Quixote, Lisboa.
5.
HARVEY, O. (1992) A Condição pós-moderna, Ed.
Loyola, São Paulo.
6.
LYOTARD, J.F (1989) A Condição pós-moderna, Gradiva, Lisboa.
7.
MARX, K. (1978) O Capital. Ed. Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro.
8.
SILVA, A. C. da (1994) A
Renovação Geográfica no Brasil e Outros Escritos, (no prelo).
9.
SOJA, E. W. (1993) Geografias Pós-Modernas, Jorge
Zahar, Rio de Janeiro.
10.
VILLALOBOS,
A., VIOLA, E., GUILHON-ALBUQUERQUE, J. A. ., KOWARICK, L., ORLANDI, (1978) Classes Sociais e Trabalho Produtivo, CEDEC/ Paz e Terra, Rio de Janeiro.