A geografia e “A formação social como teoria e como método”*

 

 

 

 

Armen Mamigonian

Departamento de Geografia da USP

 

 

 

 

O mais importante texto teórico de M. Santos é, segundo meu ponto de vista, “Sociedade e Espaço: a formação social como teoria e como método”, publicado em 1997 no Boletim Paulista de Geografia nº 1, vol. 9, do mesmo ano e em outras revistas...

Curiosamente este texto fundamental não recebeu a atenção devida, como se percebe na sua ausência em “The best of Antipode 1968 – 1983” (?), na pequena repercussão nos dois maiores centros de pesquisa geográficos brasileiros (USP e UFRJ), na sua ausência da bibliografia de algumas disciplinas de metodologia de Geografia na própria USP, no livro Geografias Pós – Modernas de Soja, etc. No entanto, este trabalho constitui o marco fundamental da renovação marxista da geografia humana atual.

O artigo tem o mérito de reafirmar o caráter global e de totalidade da visão geográfica, que existe desde os gregos (Heródoto), passando pelos alemães, fundadores da moderna geografia (século XIX), e que está em debate na segunda metade do século XX nas discussões sobre geossistema e formação social, os dois paradigmas da nossa ciência, apesar da grande confusão teórica reinante.

 

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A geografia moderna (Humboldt e Ritter) e o marxismo (Marx e Engels) nasceram ao mesmo tempo, na primeira metade do século XIX, na Alemanha e ambos herdeiros da filosofia clássica alemã (Kant e Hegel), com a diferença de que a geografia fez parte da ala direita desta matriz intelectual, enquanto o marxismo fez parte da ala esquerda. Por isto a geografia alemã possuía uma perspectiva dialética (e não positivista, como disse A.C. Moraes, entre outros) e uma visão globalizadora e de totalidade da natureza e da sociedade, de maneira semelhante ao marxismo.

Deve-se notar que a geografia nasceu após a vitória do capitalismo sobre o feudalismo na Europa Ocidental, mas não ainda na Alemanha, e depois do aparecimento da ciência política e da economia. A questão do poder e da razão de Estado, retomadas pela geografia no século XIX (desembocando na geopolítica), foram colocadas pela primeira vez nos tempos modernos por Maquiavel, no início do século XVI, quando a unificação político-territorial era questão premente para a continuidade do capitalismo nascente nas cidades-Estado italianas. Nota-se que o fracasso da unificação política na Itália foi uma das razões do fracasso do capitalismo nas suas cidades – Estados, mas a ciência política estava lançada e desempenhou o seu papel em outros países. A burguesia inglesa, vitoriosa politicamente (Revolução Puritana), passou a “fabricar fabricantes” (Marx) e a teorizar a maneira de se expandir mais rapidamente, o que deu origem à ciência econômica, na segunda metade do século XVIII, com as análises de A. Smith sobre a divisão social e internacional do trabalho, como mecanismos centrais de acumulação.

As lutas sociais do século XIX, sob o capitalismo ascendente e o feudalismo decadente, permitiram descobrir a existência das classes sociais, tanto para vê-las como motores da história (Marx), como problemáticas para ordem estabelecida (A. Comte), originando a sociologia. Mas à medida que as contradições sociais tornaram-se mais agudas e não se superaram na Europa Ocidental, os bloqueios sociais à realização individual conduziram ao nascimento da psicologia (Freud), na primeira metade do século XX. Já se tratava da ciência da patologia da sociedade capitalista. 

Geografia e marxismo, como já se disse, nasceram de raízes comuns, mas o marxismo se preocupou basicamente com a crítica ao capitalismo, com a alienação do trabalhador, com a luta de classes, sendo herdeiro não somente da filosofia clássica alemã, mas também do socialismo francês e da economia política inglesa, mais internacional nas suas origens do que a geografia, uma ciência sobretudo alemã.

Assim como a filosofia clássica alemã foi uma resposta ao atraso político, social e econômico da Alemanha, igualmente foi a geografia para a unificação política (completada em 1871) e à aceleração do desenvolvimento nacional, tendo uma visão de totalidade da natureza e dos homens, derivada do iluminismo e apoiada numa classe de senhores feudais, que liderou aquele processo. A geografia nasceu, assim, no interior de uma formação social que combinava atraso e avanço, isto é, um feudalismo que se transformava, de cima para baixo, em capitalismo precocemente financeiro e militarizado, mais dinâmico do que os já existentes na Europa.

 

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A. von. Humboldt (1769 – 1859), originário da nobreza prussiana, admirava, como Marx, o poeta H. Heine, e na tradição dos grandes intelectuais do século XIX, herdeiros do iluminismo, acreditava na força do conhecimento, como Balzac (“o mundo me pertence porque eu o compreendo”). Humboldt costumava a dizer “amo o que compreendo, o que abarco em sua totalidade”. Sua formação lhe permitia ver, segundo suas palavras, a natureza “como um todo movido e animado por forças internas” e afirmava que “o descobrimento da verdade é inconcebível sem a divergência de opiniões” (K.R. Biermann: Alexander von Humboldt, Fce, México).

A maneira de Kant, Humboldt procurou abranger a geografia física e a geografia humana como estudos inter-relacionados, mas distintos. Como grande naturalista, com estudos de mineralogia e botânica na Universidade de Gotingen e na academia de minas de Friburgo, traçou as primeiras isotermas à escala mundial, elaborou os primeiros perfis topográficos (Andes, México, Espanha) que correlacionavam e comparavam os vários fenômenos naturais, e estabelecia permanentemente comparações no mundo natural, o que levou Engels (Dialética da natureza) a apontá-lo expressamente como um dos responsáveis pelo enfoque comparativo, que abria brechas na visão conservadora da natureza. Estudou também ciências financeiras, econômicas e administrativas na Universidade de Frankfurt no Oder, completando-os na Academia Comercial de J. G. Bush, em Hamburgo, estudos que ele ironizava como “a arte de dominar o mundo, que só se compreende quando se tem conhecimento de tudo” e que lhe permitiu escrever dois livros fundamentais de geografia humana do México e de Cuba, os chamados “Ensaios políticos”.

Enquanto Marx e Engels em 1845 redigiam “A ideologia alemã” (manuscrito), que lançava as teses fundamentais do materialismo histórico, Humboldt publicava o primeiro volume de Cosmos (o quinto e último em 1862, póstumo), acompanhava o rei da Prússia a Copenhague e realizava sua última excursão geológica (Eifel), depois de ter realizado anteriormente excursões científicas à América, Europa e Ásia.

Sua obra continua, até hoje, sendo reeditada e mantém uma visão de totalidade e de captação da realidade natural e da sociedade que curiosamente se aproxima das idéias de geo-sistemas e de formação social, que poucos geógrafos atuais conseguem ter.

 

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No inicio do século XX a filosofia clássica alemã, a geografia e o marxismo continuavam muito importantes na vida intelectual alemã. H. Braverman (Trabalho e capital monopolista, cap. 7) apontou a geografia alemã como uma das responsáveis principais pela participação ativa da Alemanha na segunda revolução industrial (final séc. XIX e inicio XX), a primeira revolução técnico-científico. Por outro lado, a influência marxista em intelectuais como Schmoller, Sombart e Weber demonstra a extensão de sua presença, sem falar da social-democracia e de políticos marxistas do nível intelectual de Kautsky e Luxemburgo.

A geografia, pelo lado da geopolítica (Ratzel e Haushofer), também vivia momentos de grande prestígio na direita alemã, pois naquela época, como havia acontecido ao longo de todo século XIX, a questão nacional era um dos grandes problemas políticos do país. Aliás, dada a sua importância, a geografia alemã foi exportada para os EUA, França e outros países. Em vista do caráter expansionista americano, as idéias geopolíticas alemãs tiveram grande aceitação lá, enquanto na França a aliança da burguesia com os pequenos camponeses deu origem a uma geografia regional (pays), dos gêneros de vida, com ênfase na permanência das relações homem – natureza e pouco nas mudanças.

Bismarck, patrono da industrialização alemã, havia conseguido diminuir a importância da questão social, criando precocemente a previdência social e tomando outras medidas de contenção do socialismo. A questão nacional, após a Primeira Guerra Mundial, quando o mundo foi partilhado violentamente, aparecia para a Alemanha de três maneiras: 1) seu território estava cercado por dez nações no coração da Europa, quase todas inimigas e freqüentemente abrigando minorias problemáticas, de origem germânica (alsacianos, etc), 2) existiam numerosas populações de origem alemã no além-mar (EUA, Brasil, Chile. Etc), que durante a primeira guerra haviam sofrido perseguições e mesmo expropriações e 3) o comércio exterior, sustentáculo econômico da população alemã, era administrado com tarifas protecionistas para a agricultura sobretudo, mas com agressividade nas exportações industriais. A importância da questão nacional para o bem estar dos alemães acabou arrastando a social-democracia alemã (Kautsky) a reboque do capitalismo (“nós, alemães, contra o mundo”) e provocando o gradativo enfraquecimento do marxismo alemão. A derrota da Alemanha na primeira guerra, por outro lado, deu margem a tentativas de aproximações da geografia com o marxismo na década de 20 (Wittfogel, Chrystaller, etc.), mas de curta duração.

No início do século XX o marxismo estava migrando da Europa Ocidental para a Europa Oriental (Rússia, etc.) e logo depois para a Ásia semi-colonial e a América Latina, lugares onde para o povo a questão social e a questão nacional se somavam, ao invés de se excluírem.

 

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A Europa oriental, Ásia e América Latina viviam, na condição de periferia semi-feudal do centro do sistema capitalista, duas questões potencialmente explosivas e sempre conflitivas nos fins do século XIX, quando as idéias marxistas começaram a chegar nestas regiões do mundo: os conflitos com as potências ocidentais dominantes (EUA, Inglaterra, França, etc) e os conflitos agrários e industriais.

Enquanto na Europa ocidental o marxismo ia declinando em geral, mas se “expandindo” nas universidades, abandonando gradativamente a última tese sobre Feuerbach (“os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras: o que importa é transformá-lo”), na periferia uma parte da intelectualidade ia se esquerdizando, como J. Marti, J. C. Masiátegui, M. Bonfim, O. Brandão, etc na América Latina e Mão-Tse-Tung, Teng-Siao-Ping, Ho-Chi-Min, Giap, etc, na Ásia, mostrando-se capazes de unir as questões sociais e as nacionais.

No Brasil, a expansão do marxismo na década de 30, na esteira da Revolução de Outubro e da Revolução de 30, deu origem a uma geração de intelectuais brilhantes, como Caio Prado Jr., Carlos Marighella, Graciliano Ramos, Ignácio Rangel, entre outros. Não é por acaso que uma das primeiras aproximações frutíferas entre geografia e marxismo, à escala mundial, foi realizada por Caio Prado Jr., na revista Geografia – AGB (década de 30), o que estimulou, na mesma direção, geógrafos com Manoel Correia de Andrade, Orlando Valverde e Pedro Geiger, na década de 50.

M. Santos fez parte do movimento acima referido, mas talvez mais ainda do movimento de aproximação geografia-marxismo do pós-guerra da França, do qual sofreu nítida influência, R. Guglielmo (La Nouvelle Critique, nº 68, 1955) e J. Suret-Canale (Espaces-Temps, nºs 18-19-20, 1981) prestaram bons depoimentos sobre este movimento de aproximação e suas dificuldades. M. Santos introduziu-se nesta experiência por intermédio de J. Tricart (L’habitat urbain, etc), de quem herdou as idéias de espaço como combinação de formas, funções, estruturas e processo. Enquanto na França a aproximação perdeu força em decorrência da expansão do capitalismo nos anos 50 e 60, M. Santos, levado à direção do planejamento estadual na Bahia e tendo sido o geógrafo mais atingido pelo regime militar, acabou forçado a aprofundar sua postura independente no exílio, durante o périplo doloroso, mas frutífero pelas universidades estrangeiras.

Deve-se notar que esta postura teve raízes sócio-regionais, pois Salvador e o Recôncavo baiano, desde as revoltas escravas e a decadência do latifúndio açucareiro no século XIX, foram dos raros lugares onde ocorre ascensão social dos negros no Brasil (Thales de Azevedo, Waibel, etc), que freqüentemente se tornaram pequenos produtores independentes, como foi o caso dos seus antepassados, conforme depoimento prestado a Geosul, nº 7, 1989, transmitindo dignidade e energia aos filhos e descendentes.

Por outro lado, tendo se formado em Direito, numa escola de alto nível, M.Santos foi treinado na prática intelectual do chamado contraditório jurídico, que exige o cotejo de posições distintas sobre um mesmo tema. Por outro lado, descobriu que alguns professores, membros da nobreza de toga baiana, criticavam o acesso aos empregos públicos por partes dos formandos, mas tratavam de facilitar o mesmo acesso aos seus parentes num típico exemplo do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, tão comum entre os poderosos, na guerra ideológica e de interesses. Sentiu este problema do jogo de interesses entre centro e periferia nas universidades estrangeiras onde trabalhou e que se repete à escala mundial, quando recentemente, durante o governo Reagan (década de 80), foram concedidos privilégios às empresas em dificuldades (Chrysler, etc), alavancamento da economia pela corrida armamentista; isto é, participação ativa do Estado na vida econômica americana, com a contrapartida de impor à periferia latino-americana a ausência do Estado nos negócios, com o máximo de liberdade ao “mercado”.

Assim sendo, M. Santos, educado na prática das qualidades de honradez, fidelidade e respeito à verdade, protegido de Simões Filho, um dos poderosos e brilhantes senhores feudais baianos, soube manter fidelidade às qualidades e origens sociais e raciais, exercendo na prisão e no exílio a liberdade de pensamento, que muitos abandonaram em “liberdade”. A expansão agressiva da chamada geografia teorética, sobretudo nos EUA, querendo impor uma visão de mundo reacionária e especializada (geografia como ciência da organização do espaço), combinada com a reação mundial à guerra do Vietnã, levou M. Santos a participar ativamente da última reaproximação entre geografia e marxismo (final dos anos 60 e início dos anos 70) culminando no seu texto “Sociedade e espaço: a formação social como método”, onde pela primeira vez se disse claramente que formação social e geografia humana são praticamente coincidentes.

 

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M. Santos percebeu que formação social e geografia humana não coincidem completamente, não pelas teorias que embasam aquela categoria marxista e esta área do conhecimento acadêmico e mais pela prática indispensável de localização da geografia, nem sempre usada nos estudos de formação social, daí ter proposto a categoria formação sócio-espacial. Como disse Humboldt: “de que serve toda descrição das particularidades do reino natural e dos homens, se não é possível determinar o ponto da terra a qual pertence esta ou aquela particularidade” (K. R. Biermann, p. 129). Mas na verdade, qualquer estudo rigoroso de formação social deve cuidar de localizações e espacializações, como se pode ver, por exemplo, em Lênin (Desenvolvimento do capitalismo na Rússia), Trotsky (Peculiaridades do desenvolvimento da Rússia, in História da revolução russa), Gramsci (Questão meridional), I. Rangel (História da dualidade brasileira), etc.

Destas observações resulta ser estranha a insistência de certos geógrafos (Y. Lacoste, E. Soja, entre outros) em cobrar a ausência de espaço ou de geografia nos trabalhos marxistas. Apenas para exemplificar, além das referências acima indicadas, em Hegel como em Marx as civilizações nasceram em ambientes naturais particulares; isto é, nas planícies férteis das regiões temperadas do hemisfério norte (Hegel: A conexão da natureza ou os fundamentos geográficos da história universal; Marx: Trabalho necessário e trabalho excedente), assim como ambos viram o oceano Pacífico como futuro centro mundial. Os exemplos podem ser multiplicados, pelo interesse diretamente geográfico, dos estudos de Marx sobre renda da terra, desenvolvimento desigual, sistema colonial, etc. Esta insistência estranha e empobrecida não resultaria de uma visão acadêmica e compartimentada dos conhecimentos em geral e da geografia em particular?

Diante da proposta de Formação social como paradigma da geografia humana (M. Santos, 1977), teria sido desejável uma discussão rica, que abrangesse pontos de convergência e de divergência, mas isto não aconteceu, o que não foi de todo surpreendente, pois tanto o capitalismo, objeto de análise da categoria proposta, como a intelectualidade, executores das pesquisas, têm outras necessidades. Os intelectuais estão cada vez mais presos à necessidade de “originalidade”, em conseqüência de um individualismo cada vez mais doentio, enquanto o capitalismo pode se interessar por uma visão abrangente que possa desvendar os crescentes problemas ambientais (geo-sistema), mas não por uma visão abrangente que analise as sociedades humanas e seus problemas (formação social) e assim sendo estimular disciplinas cada vez mais especializadas. Daí decorre a crescente tendência de separação entre geografia física e humana e a transformação da geografia humana num estudo do espaço ou do homem-habitante, como queria Le Lannou nos anos 50. Deve-se assinalar que nos EUA geografia física e humana estão completamente separadas no mundo acadêmica.

É interessante observar a convergência de preocupações e estudos que desembocaram na emersão do paradigma geo-sistema na geografia física. O geógrafo canadense Dansereau pode ser considerado um dos pais dos estudos ecológicos modernos (década de 50), assim como na URSS a escola soviética de geógrafos (V. Sotchava, 1960) propôs a categoria geo-sistema como integração das especializações (geomorfologia, climatologia, botânica, etc), mas também procurou entrosamento com os fatos sociais que interferem no mundo natural. Igualmente G. Bertrand (1968) na França, com precursores do porte de Dresch e Tricart, enveredou pelo mesmo caminho, o que aconteceu quase simultaneamente no Brasil com Aziz Ab’Saber, J.J. Bigarella e C. A Figueiredo Monteiro, que tem escrito vários textos sobre este processo intelectual (Os geo-sistemas como elemento de integração na síntese geográfica e fator de promoção interdisciplinar na compreensão do ambiente, UFSC, 1995).

Por isto, quando alguns (R. Moreira e outros), propõe a inversão da relação geografia física/humana, visto que na geografia tradicional os fenômenos humanos eram subordinados à base natural e nesta inversão proposta o natural é reduzido à recursos econômicos (matérias-primas, etc), a geografia  física, armada do paradigma geo-sistema, continua suas pesquisas  tão indiferente quanto os árabes no ditado “enquanto os cães ladram, a caravana passa” e realiza mais progressos do que a geografia humana, pois existem, por interferência humana, a chuva ácida ou os buracos na camada de ozônio, as massas de ar continuam se deslocando, os vulcões não precisam pedir autorização dos governos da Nova Zelândia ou da Colômbia e nem os terremotos aos poderosos governos dos EUA ou do Japão, etc. Afinal, está na hora de se perceber, com humildade, que existem leis naturais e leis sociais, tanto umas como outras, independentemente da vontade dos indivíduos.

 

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A geografia humana brasileira já avançou muito em comparação ao que se faz no centro do sistema capitalista, graças às contradições sociais gritantes da nossa realidade, às questões democráticas decorrentes da falta de cidadania para milhões, à questão nacional agravada pelo neo-liberalismo imposto recentemente pelo imperialismo americano ( Collor, FHC, etc). Avançou também pela contribuição de M. Santos e outros que perceberam a importância do Paradigma formação social. Mas os próximos avanços dependem do grau de comprometimento dos geógrafos que se pretendem marxistas (pois muitos já abandonavam o marxismo como um navio que estava afundando) com os problemas nacionais, sociais e democráticos que estamos vivendo e da nossa capacidade de aprofundar a discussão do paradigma formação social e aplicá-lo às pesquisas (M. Graciana E. D. Vieira: Formação social brasileira e geografia: reflexões sobre um debate interrompido, UFSC). Perdemos o nosso precioso tempo dando excessiva atenção a uns tantos intelectuais estrangeiras, alguns simples propagandistas (Lipietz, Dolfuss entre outros), outros que empobrecem a categoria formação social (Castells, Soja, Kurz entre outros) e alguns ainda que nunca ouviram falar dela (Benko entre outros).

Aprofundar significa levar a sério os grandes intelectuais da humanidade como Sócrates, Platão, Hegel, mas sobretudo Marx, Lênin e Gramsci, não esquecendo intelectuais menores como Weber, entre outros. Significa comparar a renda diferencial de distância e a chamada lei da Von Thünen, etc. significa estudar em que medida o paradigma formação social vale para todas as ciências sociais, nas suas diferentes especializações, mas também sua coincidência com a geografia humana na sua abrangência. Desta maneira nos aproximaremos, quem sabe, da possibilidade de alcançarmos uma história dos homens (formação social) e outra da natureza (Geossistemas), enunciados na Ideologia alemã.

 

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* Texto apresentado no Seminário Internacional: O Mundo do cidadão Um Cidadão do Mundo. Na USP em setembro de 1996.