A AGB e o Ensino da Geografia*

 

 

 

 

 

Zeno Soares Crocetti**

UNIBEM

 

 

 

Historicidade

Em 1986, após a realização da 34ª Assembléia Ordinária da AGB, realizada durante o VI Encontro Nacional de Geógrafos (Campo Grande, 1986), deliberou-se pela realização de Encontros Nacionais de Ensino de Geografia. Por essa decisão, afirmava-se a necessidade apresentada nas reuniões da AGB para dar vazão às discussões de assuntos urgentes ou temáticos, de interesse geral dos professores de Geografia. A deliberação aprovava a realização de reuniões nacionais intercaladas ao encontro nacional bianual. Na ocasião estávamos saindo de um período de trevas, de um Estado de Exceção, quando a situação do Ensino de Geografia no País passava por crise, em que a disciplina tinha perdido carga horária, e em muitos casos desaparecido das salas de aula, substituída por Estudos Sociais nas séries do 1º Grau, hoje Ensino Fundamental, ou, como no Ensino de 2º Grau (médio), onde simplesmente havia sido reduzida há dois tempos no 1º ano ou no 2º ano, quando antes tínhamos nas três séries, ou seja, no 1º ano, Geografia Geral, no 2º ano Brasil e no 3º Geografia Regional do Mundo. Esse problema até hoje não foi resolvido, com o lançamento na década de 1980 de livros com o conteúdo único, ou pasmem! Geral e do Brasil, até hoje no mercado.

Essa realidade nos exigia profundos questionamentos, uma melhor fundamentação e reflexões. Esse debate esteve presente no 1° Encontro Nacional de Ensino de Geografia, realizado em julho de 1987, em Brasília, no campus da UnB, que reuniu cerca de 2 mil pessoas entre brasileiros a estrangeiros - um marco na história da AGB. Nosso primeiro encontro sofria de tristes lembranças e muitos fantasmas, como censura, perseguições, torturas, etc., tudo isso criou uma geração de calados, reprimidos, daí a idéia de nosso Encontro ser chamado de: Fala Professor.

 

Utopia Concreta

O 1º ENEGE – Encontro Nacional de Ensino de Geografia - foi estruturado em painéis a grupos de trabalho, o que permitiu um ambiente incrível de troca de experiências entre professores e alunos, e uma melhor compreensão da realidade do ensino de Geografia, fornecendo assim subsídios para a sua reformulação. Mas, por que reformulação? Porque a Geografia que se ensinava estava distante da realidade, descritiva, compartimentada, era um reforço para a manutenção de uma análise fragmentária do espaço. Assim, o grande objetivo do Encontro foi debater a elaborar uma estratégia capaz de transformar o ensino de geografia do 1° a 2° Graus, na ampliação do estudo do espaço geográfico, em que se buscasse a integração da organização e transformação do território com as diversas relações sociais existentes em cada momento histórico.

No Segundo Encontro Nacional, ou o 2º Fala Professor, foi realizado em julho de 1991, no campus da USP. Nesse evento, muitos críticos o denominaram de “Escuta Professor”, por causa das mudanças no seu formato, Mesas Redondas, Cursos de aprofundamento, Conferências e Oficinas. Ainda, por causa da crise política e econômica fomos poucos mais de 500 inscritos.

Em julho de 1995, realizamos o 3º Fala Professor, no campus da Unesp de Presidente Prudente, com aproximadamente 600 pessoas inscritas. Dessa vez, os críticos foram mais perspicazes e apelidaram o evento de “Cala Boca Professor” A razão agora era mais ampla. Além do formato, estávamos diante de uma outra realidade brasileira. O crescimento e o avanço dos cursos particulares de nível superior, ou seja, o crescente número de Faculdades particulares, principalmente formadoras de professores, um velho sonho da Ditadura brasileira, dos acordos do MEC-USAID, expandindo – se nos tempos da “Nova República”. Com essa política isolavam-se cada vez mais os “Centros de Formação de Professores” das Universidades Públicas.

Em julho de 1999 em Curitiba, realizamos o 4º Fala Professor, esse com mais de 1000 participantes inscritos, 300 trabalhos apresentados e discutidos, dentro de um novo formato.

Discutimos as transformações no mundo do trabalho e suas repercussões na educação brasileira, além de nós experimentarmos os primeiros passos da “nova” LDB. Essa realidade impunha uma volta às raízes, foi o que fizemos, voltamos ao formato do primeiro encontro, com Grupos de Trabalho, e uma versão atualizada dos TOs (Trabalho Orientado), para os EDs (Espaço de Diálogo). Essa versão mais aperfeiçoada, foi um sucesso de público e crítica, é num esforço coletivo pudemos fazer pela primeira vez circular diariamente um jornal com as sínteses do dia anterior e disponibilizar em tempo real na Rede Mundial de Computadores no sítio da AGB.

 

E para o 5º Fala Professor, o que está em pauta?

A herança de governos neoliberais perversos, fruto de políticas públicas equivocadas, que no campo da Educação dos deixou além da LDB, os PCNs e os DCNs, ou seja alterações no Ensino Fundamental, Médio e Superior. Sendo que na opinião de muitos a tragédia assola no momento mais uma vez o Ensino Superior, onde recebemos diagnósticos de vários estados com o seguinte quadro:

Ensino Fundamental e Médio: falta de professores e salários defasados. Nas Escolas Públicas, 80% dos professores são formados na Rede privada, enquanto 90% dos professores da Rede Privada são formados na Rede Pública.

Ensino Superior: a multiplicação de cursos sem equipamentos, sem biblioteca, sem laboratórios, e muitos casos, com um corpo de professores recém saídos das universidades públicas. Além da questão da avaliação dos Cursos de Geografia em 2003.

Diante dessa conjuntura, verificamos que nossa condição de professores é preocupante.

Acompanhamos a banalização e empobrecimento da nossa profissão. Isso nós sabemos, pois é experimentado por todos nós. Mas precisamos resistir, discutir e diante desse novo governo que chegou, que muitos de nós desejamos, vamos propor soluções para esses e outros problemas. Se a conjuntura não é favorável, chegou à hora de juntos construirmos uma alternativa, um novo jeito de fazer Educação.

Vamos mais uma vez de todos os cantos desse imenso Brasil, vamos nos reunir no 5º Fala Professor, a ser realizado na UNESP – Campus da Universidade Estadual Paulista –, Campus de Presidente Prudente-SP. Vamos nos encontrar com a mesma vontade das outras vezes, de outros companheiros: professoras e professores, que juntos trouxeram as condições que herdamos no cotidiano da sala de aula, com os nossos alunos. Vamos avançar carregar para mais longe esse sonho, acreditando que as gerações futuras terão melhores condições que a nossa. Vamos responder essa convocação da AGB com nossa vitalidade, criatividade, organizando este fórum para nos revermos como professores. Nutrimos-nos da certeza de que sejam quais forem às condições que herdamos do governo FHC, nós estaremos agora realizando o nosso direito de aprender fazendo!

 

 

* Texto apresentado no portal da AGB DEN, utilizado como convocação de professores de Geografia e sócios para participação no 5º Encontro Nacional de Ensino    Fala Professor! março de 2003.

** Professor de geografia na UNIBEM e autor de livros de geografia.

 

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